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CICLO DE DEBATES – “Resistir não basta, é preciso enfrentar o fascismo”, defende Profª. Virgínia Fontes (UFF) na ADUFC

A terceira conferência do ciclo de debates Democracia e Emancipação, promovido pela ADUFC, recebeu a Profª. Virgínia Fontes, da Universidade Federal Fluminense (UFF), na última quinta-feira (2), para debater a crise econômica e as mudanças no mundo do trabalho. A docente fez uma reflexão profunda sobre o caminho que levou à ascensão do fascismo no Brasil – e a consequente precarização do trabalho – e lançou um questionamento e um convite aos presentes: “Resistir não basta. É importante, mas ou a gente enfrenta ou empurram a gente pra trás. A gente tem que resistir e enfrentar”. A pesquisadora, que também leciona na Escola Nacional Florestan Fernandes, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dividiu a mesa com o Prof. Fábio Sobral, do Departamento de Teoria Econômica da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O debate foi mediado pelo presidente da ADUFC, Prof. Bruno Rocha, que celebrou a possibilidade de voltar a fazer eventos presenciais no sindicato após a era pandêmica e reforçou os desafios que se colocam mesmo após a derrubada do governo de Jair Bolsonaro. “Primeiro, a gente derruba um governo fascista, mas não está livre do fascismo na sociedade. Ainda vamos enfrentar muitas dificuldades”, disse. “Temos acompanhado a correlação de forças entre a parte popular desse governo progressista (da gestão de Lula) e o mercado, que se estabelece também como grande agente de disputa”, acrescentou.

Virgínia Fontes lembrou que a crise não é do capitalismo, mas da sociedade como um todo. Segundo ela, há três pontos centrais que fortalecem esse sistema e precisam ser destravados: a economia, o desânimo social e o fascismo. Também é preciso estar atento às “soluções fictícias” apresentadas pelo mercado financeiro para a suposta crise que se apresenta, defende a docente. Uma dessas falsas saídas, apontou, é o que se chama de capitalismo verde numa subversão da pauta ambiental e climática em favor de grandes corporações. “Capitalismo verde, carbono, hidrogênio verde, agronegócio verde. Isso é ficção, mas que é repetida todos os dias. A gente precisa ser capaz de olhar para o que eles dizem e saber onde está a pegadinha”, destacou.

Outra crítica da professora da UFF foi contra a “filantropia empresarial” operada por grandes empresas que recebem recursos públicos por imunidade de impostos. “É mentira quando dizem que não recebem nada do governo. Vendem esses projetos e se auto-remuneram. Estamos cercados de ativismo burguês para minar nossas lutas sindicais na educação, na saúde, no transporte, em todos os lados. Quando eles minam as nossas lutas, quando as escolas estão num estado péssimo e se conseguirem devastar o SUS, nessa terra arrasada só nasce fascismo”, apontou, citando institutos privados de educação e saúde, por exemplo, que estão presentes inclusive em governos de esquerda. É em terras arrasadas – com crise econômica e desânimo coletivo – que surgem bolsonaros.

Pacto social coletivo legitima uberização do trabalho

Nesse contexto de precarização e uberização do trabalho, prossegue Virgínia Fontes, engana-se quem pensa que só as classes mais vulneráveis são os alvos. Para ela, há um pacto coletivo que atinge as mais diferentes camadas sociais. “A precarização das relações de trabalho, para poder dar certo por baixo (nas classes mais vulneráveis), tem que ser justificada por quem está no meio (classe média) e glorificada por quem está em cima (elite financeira)”, explicou. O caminho, sugere a docente, é o enfrentamento e a disputa de projeto por dentro dos movimentos, dos sindicatos, das universidades, mirando experiências contra-hegemônicas que deram certo. “O MST avançou muito no sentido de mostrar que era possível formular uma outra educação. A gente precisa avançar nessa ideia de Paulo Freire e do MST por um projeto de educação para as grandes massas”, exemplificou.

O Prof. Fábio Sobral (UFC) fez uma explanação sobre o avanço do sistema capitalista e de como ele se remodelou ao longo dos séculos para continuar dominante. “Eu acho que nós estamos retornando ao capitalismo original. Ele está voltando aos seus primórdios, de grandes corporações”, opinou. Conforme o docente, o capitalismo utiliza seis fatores centrais para sobreviver: o aumento do grau de exploração do trabalho; a redução dos salários; a baixa de preço dos alimentos do capital constante; a superpopulação relativa; o comércio exterior; e o aumento do capital em ações.

Para Fábio Sobral, o papel da universidade e dos pesquisadores é “criar conceitos” e pensar novas possibilidades possíveis. Entre os caminhos sugeridos, ele citou a elevação dos salários e das proteções, inclusive assistenciais; a disponibilidade de máquinas para os serviços da população – por exemplo, cooperativas controladas pelos próprios trabalhadores; e limitar o capital por ações. “A teoria econômica começou a criar mentiras para justificar o aumento dos preços. O Marx tentou explicar o lucro, porque ele é a conexão”, pontuou.

O próximo debate do ciclo, que segue até abril, será no dia 14/3 sobre “O papel dos militares na política no Brasil”, com exposição do Prof. Rodrigo Lentz (UnB), autor do livro “República de Segurança Nacional: militares e política no Brasil”. O ciclo de debates “Democracia e emancipação: o papel da educação e da classe trabalhadora”, promovido pela ADUFC, teve início no dia 9 de fevereiro, com palestra do filósofo e docente da USP Vladimir Safatle e do Prof. Custódio Almeida (UFC). No dia seguinte (10/2), Safatle lançou o livro “Em um com o impulso”, na sede da ADUFC em Fortaleza. A segunda conferência ocorreu no dia 15/2 e recebeu os professores Antônio Cruz (UFPel)Zuleide Queiroz (ANDES-SN/URCA) e Nilson Cardoso (UECE).

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