No mês do orgulho, é preciso celebrar e dar a conhecer as contribuições de pesquisadores/as LGBTQIAPN+ no mundo. Quanto mais diversa e inclusiva a ciência for, é também uma esperança para que a humanidade avance para uma vivência mais justa e digna para todas as pessoas. A memória das contribuições de cientistas LGBTQIAPN+ precisa ser constantemente difundida, e é com esse intuito, de produzir memória e contribuir para o fortalecimento da luta pela diversidade, que trazemos aqui alguns nomes que precisam ser lembrados e celebrados.
Podemos começar aqui mesmo pelo Ceará celebrando a docente Luma Nogueira de Andrade. Luma é professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB) e foi a primeira travesti doutora do Brasil. A docente foi indicada pela SEDUC-CE para a Medalha do Mérito Funcional (2010); é vencedora do II Prêmio Ciências (MEC, CNPQ, ONU), do Prêmio Educando Pela Diversidade Sexual (Senado Federal), do prêmio Artur Guedes e do Prêmio Internacional Stonewall 50 anos. Tem experiência na área de Gestão em Ciências Humanas, atuando principalmente nos seguintes temas: Direitos Humanos, Diversidade Cultural, Etnicorracialidade, Gênero e Sexualidade (da infância à velhice), Educação, Políticas públicas e Movimentos Sociais. É autora do livro Travestis nas Escolas: Assujeitamento e Resistência a Ordem Normativa e organizadora do e-book Diversidade Sexual, Gênero e Raça: Diálogos Brasil-África.
Outra mulher de destaque é a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus. Jaqueline é professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (DIHS/ENSP/FIOCRUZ). Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PROFHISTÓRIA/UFRRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva (PPGBIOS/FIOCRUZ). Foi a primeira gestora do sistema de cotas para negras e negros da Universidade de Brasília (UnB). Atuou em órgãos do governo brasileiro, incluindo o Ministério do Planejamento, a assessoria técnica da Presidência da República e o Ministério da Justiça. Em 2017, recebeu a Medalha Chiquinha Gonzaga da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, por indicação da vereadora Marielle Franco (1979-2018). A premiação foi uma homenagem a sua contribuição no debate sobre relações raciais, gênero, sexualidades e direitos humanos, destacando-se entre grandes cientistas transgêneros na academia do Brasil.




Não há como falar de cientistas LGBTQIAPN+ sem lembrar do médico Alan L. Hart (1890-1962). Alan era radiologista, escritor e romancista e dedicou grande parte de sua carreira à pesquisa e ao tratamento da tuberculose, tendo sido pioneiro no uso de raios-x para detecção precoce da doença. Foi o primeiro homem trans documentado nos EUA a realizar cirurgia de afirmação de gênero e salvou milhares de vidas com pesquisas de doenças infecciosas.
Na área da saúde, é destaque também o pesquisador Bruno Francesco Rodrigues de Oliveira, professor do Instituto Biomédico da Universidade Federal Fluminense (UFF) e co-fundador da Pride in Microbiology (PiM) Network. A PiM é uma rede engajada em trazer visibilidade e criar sentimento de pertencimento entre pesquisadores queer de todas as áreas da Microbiologia, realçando a visibilidade dos trabalhos realizados por esses cientistas, fornecendo um espaço em que possam compartilhar as próprias trajetórias acadêmicas.
Na área da astrofísica, precisamos celebrar a trajetória da pesquisadora Vivian Miranda. Vivian é pesquisadora em Cosmologia Observacional, especialista em energia escura e estrutura do universo e, ao longo de sua trajetória, já recebeu prêmios como o Nathan Sugarman Award, o Schramm Fellowship e o Leona Woods Lectureship Award.
Na área da Física, a trajetória de Katemari Rosa já está marcada na história. Atualmente, Katemari é docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA) onde criou a disciplina “Descolonização de Saberes: a contribuição da ciência dos povos africanos e afrodiaspóricos”. É pesquisadora em interseccionalidades de gênero, sexualidade e raça na física, membro-fundadora da rede @LBsTEM (rede de mulheres lésbicas, bissexuais e pessoas trans nas ciências, tecnologias, engenharias e matemática) e coordenadora do projeto “Contando nossa história: Negras e Negros nas Ciências”.




Ainda na área da Física e Astrofísica, precisamos conhecer a trajetória da pesquisadora paquistanesa Nergis Mavalvala. Nergis atua na exploração e demonstração experimental de efeitos cósmicos macroscópicos e foi da equipe que detectou ondas gravitacionais, pela primeira vez na história da ciência, em 2016, pelo projeto LIGO. A pesquisadora é professora da Escola de Ciências do MIT e ganhadora do prêmio MacArthur Fellows.
E não é possível pensar em trajetórias LGBTQIAPN+ na ciência brasileira sem lembrar de Letícia Nascimento. Letícia é pedagoga, docente, autora e pesquisadora, tendo sido a primeira mulher travesti a ocupar uma cátedra em universidade pública piauiense. É autora do livro Transfeminismos, lançado pela Coleção Feminismos Plurais, ativista do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros – FONATRANS e membro da Diretoria do ANDES-Sindicato Nacional.
Ciência também é política
Tudo é político, inclusive a ciência. A diversidade é pauta permanente na ciência e na vida, a existência do debate e de políticas públicas que reflitam e garantam diversidade no acesso à educação é a garantia fundamental do direito humano de existir exatamente como se é em todas as áreas. E para que seja possível avançarmos cada dia mais na garantia de direitos e na defesa das conquistas já realizadas, é preciso estar constantemente em luta e movimento.
O ANDES-SN mantém ativo o grupo de trabalho GTPCEGDS – Políticas de Classe para as Questões Étnico-raciais, de Gênero e Diversidade, do qual a ADUFC é parte integrante. Os/as docentes sindicalizados que desejem participar do GTPCEGDS no Ceará, podem entrar em contato com a docente Amanda Pino através do e-mail amanda.sousa@ufca.edu.br.