Na última sexta-feira (30), o Letra Viva, Círculo de Leitura da ADUFC, realizou seu terceiro encontro no Auditório Izaíra Silvino, na sede da ADUFC, em Fortaleza. Motivados pela temática do mês que marca o Dia dos/as Trabalhadores/as, as discussões e reflexões do encontro de maio foram movimentadas pela leitura do livro Parque Industrial, de Patrícia Galvão, a Pagu.
O livro foi escrito em 1932, quando Pagu tinha 22 anos, e publicado no ano seguinte sob o pseudônimo Mara Lobo. O romance aborda as consequências da industrialização brasileira do século XX a partir de uma diversidade de personagens.
Para abrir a discussão sobre a leitura do romance, a Prof.ª Irenísia Oliveira destacou a originalidade e vanguarda da obra. “É um livro de trabalhadoras, uma história de operárias. Um livro para a gente refletir sobre o destino das mulheres, ele tem essa originalidade. Um romance social da década de 1930, mas já tem um recorte de gênero, de ser um livro de operárias, de pensar o operariado e a ideia de revolução do ponto de vista de mulheres, e os vários destinos que cada uma tem”, afirmou.
Durante a partilha de ideias sobre o livro, foram destacadas percepções como a interseção que aparece no livro entre gênero, raça e classe a partir dos enredos e personagens, o despertar da consciência proletária, a importância da cultura dos impressos para a esquerda, o valor histórico do livro, a forma de organização política nos anos 1930, entre outras.
“Uma coisa que percebi muito no livro é a questão do embate de classe, mas também como inúmeras vezes essa relação de opressor e oprimido vai além da questão patrão e empregado. Também tem a questão de gênero. Diversas vezes os homens sentiam que tinham direito a oprimir as mulheres (…), sempre tem vários degraus de opressão. Ela [Pagu] mostra como as pessoas, de acordo com gênero, classe e raça, têm uma posição. E também (…), se elas são moralmente questionáveis de acordo com os valores da época, elas vão estar num degrau de opressão ainda mais baixo”, comentou Raquel Fernández, participante do Letra Viva.
O Prof. Ricardo Jardel compartilhou durante o encontro que o livro o deixou reflexivo sobre as opressões do mundo do trabalho que ainda se perpetuam, como a intenção de extremo controle dos patrões sobre os empregados e a desigualdade de gênero. “Eu fiz essa conexão, às vezes eu tenho essa percepção de que as coisas não mudaram. É uma coisa tão forte, tão presente ainda [a desigualdade de gênero] (…). Ainda não é uma coisa natural [a equidade de gênero] como deveria ser, ainda têm um longo caminho”, pontuou.
O tom esperançoso do livro, assim como a diversidade de perfis femininos, também foi algo apontado por algumas participantes do Círculo. “Não é uma coisa fácil, mas ela sempre tenta trazer um tom esperançoso, eu entendo. Tem uma moça que sai da cadeia e já sai querendo voltar para o movimento”, lembrou Raquel. E a Prof.ª Ana Amélia complementou lembrando que, durante o livro, “as mulheres estão trabalhando, militando, estão nas ruas. Essa ideia da mulher que fica em casa é também mais nos setores médios. A mulher pobre vai para o trabalho”, pontuou.



Já o Prof. Carlos Manta, escreveu uma poesia a partir da leitura de Parque Industrial:
De tantas estórias
Se não, histórias
A maioria inglórias
Como um breviário,
Não é texto de fé
São contos da ralé.
Do sofrer operário.
Quotidiano, repetido
Aonde resta nada
Só gente ocultada
Sem vida ou sentido
Por Pagu, relatado.
Agruras do proletariado
À intenção, desprezado
Mantendo-o explorado
Assim, menos-valiado
Se ao saber é afastado
Por Pagu, documentado
Fiquei triste por Corina
Pobre mulher, que sina?
Do burguês, desprezada
Virar a mulher da vida
Morrer de dor parida
Por Pagu, lamentada.
Mas são tantos os fatos
Coitos incertos, estupros
Vítimas, jovens e adultos
Rosa de Luxemburgo, tenta
Até, já nos representa!
Pagu vibrando, as alenta.
Naquela época, o Brás
Pela narrativa, não apraz
Sampa, ao capital seduz
Ricos a incentivar, pobreza
Pelos guetos, muito pus
Pagu, mostra com certeza.
Carlos Manta/2025
No encontro de junho, o Letra Viva irá debater o livro “A Palavra que Resta”, de Stênio Gardel. A atividade acontecerá na última quinta-feira do mês, 26 de junho, das 16h às 18h, na sede da ADUFC.
A participação segue aberta, livre e gratuita a todas as pessoas interessadas, sendo apenas necessária a inscrição via formulário.
Letra Viva – Círculo de Leitura da ADUFC
4º encontro – 26 de junho de 2025 (sexta) às 16h
Livro para debate do 4º encontro: A Palavra que Resta, de Stênio Gardel
Inscrições via forms
Atividade aberta, livre e gratuita
Sede da ADUFC | Av. da Universidade, 2346 – Benfica