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MINERAÇÃO – Pesquisadores analisam aumento de câncer e outras doenças em regiões atingidas pela radioatividade

“Vida em primeiro lugar: como ficaria a saúde com a implementação da mineração de urânio e fosfato?” foi o tema da terceira roda de conversa do Diálogos da Mineração: deixe o dragão nuclear dormir, na última quarta-feira (23/2). A agenda deu continuidade à série de debates sobre o Consórcio Santa Quitéria e os riscos para diversas regiões do Ceará caso a exploração de urânio e fosfato seja iniciada. O ciclo de conversas – resultado de articulação de forças da qual a ADUFC participa – está sendo transmitido no canal do sindicato no YouTube desde o início de fevereiro, sempre às quartas-feiras, a partir das 19h30, e segue até o fim de março.

A Profª. Raquel Rigotto, médica especialista em medicina do trabalho e coordenadora do Núcleo Tramas/UFC, apontou a falta de transparência no projeto. “O processo está ocorrendo de forma fragmentada entre o Ibama e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). E a legislação não autoriza essa fragmentação. Em relação ao licenciamento nuclear, sabemos muito pouco. As informações não estão disponíveis para a sociedade”, destacou a docente do Departamento de Saúde Comunitária da UFC.

De acordo com a pesquisadora, a projeção é que a extração atinja 67,94 milhões de toneladas de minério em um prazo de 20 anos. “As pilhas de rejeito, tanto a de estéril como a de fosfogesso e cal, também nos preocupam porque uma vai ter 100 metros de altura com 51 milhões de toneladas, e a outra vai ter 32 milhões de toneladas”, alerta. “E essas duas pilhas, depois que acabarem os 20 anos de exploração da jazida, vão permanecer lá para sempre. E elas vão conter materiais radioativos que vão gerar fluxos de contaminação, tanto do ar como das águas”, acrescenta Raquel Rigotto, que integra a Rede Brasileira de Justiça Ambiental.

Também participou do debate Rafael Dias, biólogo sanitarista, pesquisador do Núcleo Tramas e membro da Articulação Antinuclear do Ceará. Ele apontou estudos realizados pelo núcleo da UFC sobre empreendimentos anteriores no estado que causaram conflitos ambientais. O grupo tem estudado os danos aos territórios atingidos a partir de uma matriz de análise das consequências do neoextrativismo para a saúde dos povos e comunidades tradicionais. Segundo ele, são três dimensões observadas: processos de desterritorialização, de vulnerabilização e de saúde-doença. 

“Olhando para as distintas fases, a gente observa que os grandes empreendimentos, desde o anúncio, causam nas comunidades um processo de sofrimento social; psíquico – ansiedade, depressão, pânico e suicídio; síndromes coronarianas agudas; e violência”, detalhou o pesquisador.

Antônia Rodrigues, agente de saúde comunitária do assentamento Morrinhos, em Santa Quitéria, confirma essa tese. Ela disse que, hoje, a população do município e seus arredores já está alarmada com a incidência de cânceres e outras doenças. “Tudo que foi falado aqui sobre os riscos já vem acontecendo. O dragão está dormindo e, quando ele acordar, onde iremos parar? Nós que moramos bem abaixo do ponto da mina, vamos pegar tudo mais pesado. E o que nós produzimos, a água que nós bebemos já pode estar contaminada”, afirmou. 

Regiões com minas ativadas anunciam prejuízos que podem ocorrer no Ceará

O Prof. Marco Antônio Rego, médico e docente do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia (Fameb), fez um relato sobre estudos dos quais participou a respeito dos impactos da usina de Caetité, na região Sudoeste da Bahia, que entrou em atividade em 1999. A pesquisa foi realizada pela Fameb a pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério Público Federal (MPF). Ele foi responsável pela dimensão epidemiológica do estudo, com foco na mortalidade por câncer na região. O levantamento também abordou as condições do trabalho; a avaliação ambiental; e o estudo socioantropológico. “O que se observou foi o aumento da mortalidade por câncer de uma maneira geral, mas chama atenção a incidência de tumores do trato gastrointestinal, especialmente em homens”, aponta, citando, ainda, o aumento de linfomas e leucemias.

Diante de tantos riscos já anunciados pela radioatividade, a Profª. Raquel Rigotto reforça a necessidade de que a mina de Santa Quitéria permaneça inativa. “Deixa o dragão dormir, porque a radioatividade tem que ficar embaixo da terra”, pontua. O Núcleo Tramas da UFC realiza estudos desde 2010, em diálogo com a Pastoral da Terra e de diversas comunidades, sobre os enormes impactos de empreendimentos que causam conflitos ambientais, sociais e que oferecem grandes riscos à saúde humana e a toda a biosfera.

Além da ADUFC, por meio do GT de Política Agrária, Urbana e Ambiental (PAUA), estão na organização do ciclo de debates a Articulação Antinuclear do Ceará (AACE); o Núcleo de Trabalho, Meio Ambiente e Saúde (Tramas/UFC); a Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar (EFTA); a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); o Movimento pela Soberania Popular da Mineração (MAM); o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); e a Cáritas Brasileira – Regional Ceará. A iniciativa conta com o apoio da Justiça nos Trilhos, do Comitê em Defesa dos Territórios frente à Mineração, do Greenpeace, da Rede Brasileira de Justiça Ambiental e da Articulação Antinuclear Brasileira.

[+] Assista ao vídeo completo do debate no YouTube da ADUFC-Sindicato:

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