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MINERAÇÃO – Material radioativo traz riscos imprevisíveis ao Ceará e pode ficar no ambiente por milhares de anos

A segunda roda de conversa do Diálogos da Mineração, realizada na última quarta-feira (16/2), debateu “Radioatividade e seus riscos à saúde e ao meio ambiente”. Esse foi mais um momento de reflexão sobre os prejuízos anunciados pelo Consórcio Santa Quitéria, que visa explorar urânio e fosfato no sertão cearense. Para pesquisadores que participaram da mesa, os riscos causados pela radioatividade são imprevisíveis para as comunidades do entorno e de outras regiões do Ceará e podem ficar no ambiente por milhares de anos. 

O ciclo de rodas de conversas – iniciativa coletiva construída por diversas entidades – está sendo transmitido no canal da ADUFC-Sindicato no YouTube durante os meses de fevereiro e março, sempre nas noites das quartas-feiras, às 19h30. Um dos participantes do último debate, o Prof. Heitor Scalambrini, docente aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fez uma explanação geral sobre a radioatividade, passando pela sua descoberta no fim do século XIX aos avanços ao longo das décadas até o momento atual.  

“A radiação e a energia nuclear, ao se espalharem pelo ar, pela terra, pela água, podem colocar em risco a saúde e a vida de quem está por perto. Tudo que tiver vida corre o risco de morrer ou adoecer para sempre dependendo da dose e da quantidade de radiação que recebe”, detalhou o docente, que integra a Articulação Antinuclear Brasileira (AAB). Ele acrescenta que a radiação se reparte em três: alfa, beta e gama. “A alfa não consegue nem atravessar um papel, ela é muito fraca do ponto de vista energético. A beta atravessa o corpo humano; e a gama, o aço”, detalha.

O impacto dessas partículas para os seres vivos e o meio ambiente depende da forma como elas são absorvidas. Quando a absorção é de material biológico, ele vai resultar na transformação dessas moléculas, da água, do açúcar, da proteína, do DNA do corpo animal. E esse processo pode levar a consequências muito drásticas. “Esse efeito (de mutação das moléculas) transforma o DNA e passa a interagir na reprodução molecular, que é o que a gente chama de câncer, uma distorção da reprodução das moléculas do nosso corpo”, explica o Prof. Heitor Scalambrini.

O Prof. Emerson de Almeida, do Curso de Licenciatura em Física da Universidade Estadual Vale do Acaraú, também falou sobre os riscos da decomposição natural desses minerais. “Além disso, uma parte do material vai sair voando da mina, que é o gás radônio, que não tem como ser contido de modo algum pelo empreendedor. Com o passar dos anos, com esse material se espalhando (o gás radônio se decompõe em polônio), ele vai começar a se acumular nas regiões para onde o vento levar”, diz. 

Segundo ele, esse material radioativo resultado da decomposição pode ficar no meio ambiente por milhares de anos. “Esse material vai se acumular nas bacias que abastecem a região norte do Ceará. A mina acumula o material radioativo que não é urânio, mas é tão ou mais perigoso que ele e vai estar lá numa proteção que não saberemos ao certo, talvez por milhares de anos, exposto ao tempo na forma de material quebrado”, destaca Emerson de Almeida. 

Na avaliação do Prof. Heitor Scalambrini, da UFPE, o Brasil deve encerrar a expansão do seu programa nuclear e apostar na geração de fontes de energia renovável. Ele defende a suspensão da exploração do minério radioativo; a não construção da usina Angra 3; a desativação das usinas Angra 1 e Angra 2; e a reestruturação do setor nuclear para uso seguro da energia nuclear, principalmente para fins medicinais. “As consequências de um acidente são desastrosas, diferentemente de qualquer outro tipo de acidente. A liberação de material radioativo para o meio ambiente é algo catastrófico. Inexiste qualquer outro tipo de acidente comparável”, reforça.

Região corre risco de se tornar reservatório de outros lixos nucleares

Também participou do debate Daniel Tygel, vereador pelo PT em Caldas (MG) e integrante fundador da Aliança em Prol da APA da Pedra Branca. Ele avalia que pode se repetir no sertão cearense o que ocorreu no município mineiro, que, depois de iniciada a exploração mineral, passou a ser reservatório de lixo nuclear. “Uma vez que se inicia uma atividade de mineração como essa, a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) começa a olhar para esse local como potencial reservatório de outros rejeitos radioativos de atividades de mineração que têm outro tipo de DNA e características, e também são altamente danosas ao meio ambiente e à saúde da biosfera e dos seres humanos”, ressalta.

O ativista ambiental lembra que, a exemplo do que ocorre em Santa Quitéria e em outras regiões do país que avançam com a mineração, não houve qualquer tipo de consulta à comunidade. Sandriane Lourenço, liderança indígena do povo Pankará Serrote dos Campos, no município de Itacuruba (PE), confirma a informação. “Até hoje, a população de Itacuruba, após mais de 10 anos da especulação desse projeto (que conta com seis reatores nucleares), não foi consultada e não teve direito à consulta prévia. E a minha cidade já foi impactada por um empreendimento anterior, que foi a barragem de Itaparica”, aponta.

Sandriane Lourenço questiona os interesses por trás dos empreendimentos de mineração e lamenta a decisão dos governos federal e estaduais de apostarem nessa exploração. “Por que nossos políticos e representantes escolhem a pior forma de gerar renda e emprego, trazendo um impacto social à saúde mental e física das populações que vivem nesses locais?”, critica, lembrando que a instalação de uma usina às margens do Rio São Francisco traz impactos tanto às populações ribeirinhas como aos povos tradicionais – indígenas têm uma ligação espiritual com o rio. 

Além da ADUFC, por meio do GT de Política Agrária, Urbana e Ambiental (PAUA), estão na organização do ciclo de debates a Articulação Antinuclear do Ceará (AACE); o Núcleo de Trabalho, Meio Ambiente e Saúde (Tramas/UFC); a Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar (EFTA); a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); o Movimento pela Soberania Popular da Mineração (MAM); o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); e a Cáritas Brasileira – Regional Ceará. A iniciativa conta com o apoio da Justiça nos Trilhos, do Comitê em Defesa dos Territórios frente à Mineração, do Greenpeace, da Rede Brasileira de Justiça Ambiental e da Articulação Antinuclear Brasileira.

[+] Assista ao vídeo completo do debate no YouTube da ADUFC-Sindicato:

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