Na última quinta-feira (29), estudantes e trabalhadores/as da Educação se reuniram nacionalmente para reivindicar a retirada da Educação pública do arcabouço fiscal e também por mais orçamento. Em Fortaleza, o ato teve concentração na praça da Gentilândia, no bairro Benfica.
As instituições públicas de ensino superior vêm passando por situações calamitosas relacionadas diretamente ao contingenciamento do orçamento. A Prof.ª Irenísia Oliveira, presidenta da ADUFC, apontou durante a sua fala a situação pela qual os/as trabalhadores/as terceirizados vêm passando na Universidade Federal do Ceará (UFC), e relembrou o fato que recentemente a categoria recebeu cartas de aviso prévio de forma generalizada. “Causou um clima terrível na universidade, de ameaça, de apreensão. Você imagina gente que tinha 30 anos de trabalho na UFC, de repente, recebe um aviso prévio e fica na insegurança sem saber se vai continuar ou não. Isso mexeu muito com todos nós, professores/as e estudantes. Estamos todos os dias ali, sabemos da necessidade dos/as trabalhadores/as terceirizados, como eles são importantes para o funcionamento da universidade, para o ensino, pesquisa e extensão, enfim, para todas as atividades”, afirmou.
A Prof.ª Eliane Barbosa (UNILAB), integrante da Nova Diretoria da ADUFC, que será empossada no dia 02 de junho, chamou atenção durante sua fala no ato para as desigualdades que também são reproduzidas nas questões dos pagamentos de tributo no país. “O topo da pirâmide não quer pagar tributos. Esse é o movimento que vem ocorrendo no Brasil desde, especialmente, a década de 1980. Eu estou fazendo um levantamento dos tributos do imposto de renda desde que nasceu, em 1926. Em 1964, pagava imposto de renda quem recebia 24 salários mínimos, hoje paga imposto de renda quem recebe 2 salários mínimos. Ou seja, foi descendo para [a parte mais baixa da] pirâmide pagar tributo (…). Então, a gente não tem mais garantia de nada, nunca tivemos nesse país. Tivemos conquistas, evidente, especialmente a partir da década de 1980, mas temos assistido o desmonte dessa política a cada ano e a cada dia de forma mais grave”, pontuou.
A docente relatou também a gravidade da situação em que se encontra a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB) onde a alimentação no restaurante universitário já tem começado a faltar, entre outras situações nefastas como cortes de auxílios, o transporte Intercampi reduzido e com veículos quebrados, estudantes internacionais sem o financiamento de acolhimento, a falta de orçamento para a colação de grau, entre outras.
A estudante Suyane Vidal, presidenta da União Estadual dos Estudantes do Ceará/Livre Bergson Gurjão, ressaltou que a mobilização teve um caráter nacional e que, para além de um dia de luta, esse era também um dia de esperança. “No dia 29 de maio, o Brasil inteiro se levantou em defesa da educação e contra o arcabouço fiscal. Atos aconteceram em diversas cidades, puxados a partir da convocatória da diretoria da União Nacional dos Estudantes (UNE), reunindo milhares de estudantes, professores/as e trabalhadores/as da educação que disseram em alto e bom som: os sonhos da juventude brasileira não cabem no arcabouço fiscal. Foi um dia de luta, mas também de esperança. A mobilização mostrou que os/as estudantes brasileiros/as não aceitarão retrocessos, cortes ou limitações que comprometam o presente e o futuro da educação pública. Seguiremos em luta, organizados e combativos, porque cada sala de aula precisa de investimento e cada sonho precisa de oportunidade para florescer. Educação é prioridade, e não pode ser sufocada por uma política fiscal que impõe limites ao que deveria ser ilimitado: o direito de sonhar e de transformar o Brasil pela via do conhecimento“, afirmou.
A presidenta da ADUFC, Prof.ª Irenísia Oliveira, relembrou que a conquista realizada da reversão momentânea do contingenciamento do orçamento foi fruto da grande mobilização realizada. “Felizmente, houve uma grande mobilização social, (…) uma grande mobilização social e popular pressionando os parlamentares e os reitores, e houve uma reversão desse contingenciamento. Mas nós sabemos que essa espada ainda está sobre a nossa cabeça, porque essa espada é o arcabouço fiscal, é a política fiscal. Essa política fiscal é operada sim pelo governo, mas é uma política imposta pela classe dominante. Ela é imposta pelos setores do mercado financeiro, pelos banqueiros, pelo agronegócio, por toda a burguesia. (…) Hoje é preciso uma grande força nossa, porque essa é a nossa luta, é a nossa guerra, é a luta de classes”, afirmou.
Durante a mobilização da recomposição do orçamento das universidades públicas, os/as manifestantes convidaram para o ato “Glauber Fica”, que acontece na sexta-feira (30), às 18h, também na praça da Gentilândia. A mobilização faz parte da “Caravana com Glauber Braga” que luta contra a perseguição política que o deputado federal vem sofrendo com a intenção de cassação do seu mandato.







Fotos: Amanda de Sampaio / ADUFC