A integração a partir de identidades plurais é uma tarefa histórica no Brasil. E a Educação Pública é um pilar central para que essa ponte seja construída diante de um país fundado em desigualdades – que ainda permanecem como estruturantes na sociedade brasileira. Romper as cercas e muros da Universidade é pensá-la dentro da possibilidade de um projeto inclusivo, democrático, gratuito, de qualidade e de amplo acesso.
No ano de 2025, precisamente no dia 25 de maio, que também é o Dia da África, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) completa 15 anos da sua instalação. A UNILAB nasce com a missão de contribuir com a integração entre o Brasil e os demais países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), especialmente os países africanos, bem como promover o desenvolvimento regional e o intercâmbio cultural, científico e educacional.
É um projeto que, mesmo com todos os desafios enfrentados, realiza na prática a integração democrática de pessoas de diversos países africanos, bem como de pessoas brasileiras negras, quilombolas e de etnia indígena e cigana. Com a integração de identidades diversas e plurais, a UNILAB reúne de forma singular a potência de conhecimentos e saberes que permaneceram, em sua maioria, fora das universidades brasileiras por tempo demais.
Para a Prof.ª Matilde Ribeiro, do Instituto de Humanidades da UNILAB, é fundamental compreender o percurso histórico que as questões étnico-raciais percorreram até adentrar nas universidades brasileiras. “É muito importante que nós possamos compreender que as universidades brasileiras ao longo de décadas não têm dado conta das questões étnicos-raciais e antirracistas, justamente porque não foi tratado historicamente como um tema dentro da lógica da construção do saber acadêmico, do saber formal. Por força da luta dos movimentos sociais, em especial o movimento negro, nós temos hoje no Brasil leis completamente emblemáticas no sentido de garantir o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana (…). E no mês de maio nós comemoramos o 25 de maio, o Dia da África, uma data construída também a partir de lutas contra o colonialismo, pela valorização da presença da população negra e africana no mundo. (…) Então, temos sem dúvidas comemorações a fazer, mas sabendo que a luta é contínua, a luta pela UNILAB, correspondendo ao que é a sua missão, fora desmandos, fora desrespeitos, como vem acontecendo nos últimos anos, e a presença dos negros e negras nas universidades e instituições fazendo a diferença, pelo antirracismo, pela representatividade institucional nos espaços de poder. Sigamos!”, afirmou.
“Nesses quinze anos de existência, a UNILAB vem enfrentando desafios complexos na execução de um projeto inovador de integração internacional, interiorização no Ceará e na Bahia e multicampia. Que a UNILAB continue cada dia mais diversa, popular, democrática e acolhedora de estudantes, docentes e técnicos internacionais e dos interiores, negros, indígenas, quilombolas, ciganos e LGBTQIAPN+. Vida longa à UNILAB!”, afirmou a Prof.ª Aline Abbonizio, do Instituto de Humanidades da UNILAB e 1ª secretária da ADUFC.
Para a Prof.ª Maria Inês Escobar Costa, Secretária-geral da ADUFC, o projeto de Universidade representado pela UNILAB, é também uma contraposição às perspectivas do colonialismo. “Parabéns aos que fazem parte da UNILAB, que representa além de uma trincheira de luta pela educação pública e de qualidade, representa fundamentalmente um unguento para as feridas abertas do colonialismo“, pontuou a docente.
O Prof. Arilson dos Santos Gomes, do Instituto de Humanidades da UNILAB, chamou atenção para a estrutura secular que produziu discursos hegemônicos para invalidar e inferiorizar povos e suas culturas. “Durante séculos foram reproduzidos, por meio de discursos hegemônicos, com a anuência dos poderes constituídos, a inferioridade de povos e de suas culturas. A nível internacional ou regional, sob a ótica ocidental e colonial, o sujeito diferente da branquitude, em se tratando dos grupos que historicamente foram subalternizados, eram vistos como primitivos, atrasados. As transformações, na área do conhecimento, motivadas pelos movimentos sociais reconheceram as humanidades dos diferentes sujeitos, constituindo uma das bases fundamentais para impactar positivamente as realidades. Por isso, a Unilab deve ser celebrada e defendida. Ela também é fruto dessas influências pois, não por acaso, completa seus quinze anos no mesmo momento de celebração dos quinze anos do Estatuto da Igualdade Racial do Brasil”, afirmou.
Já o Prof. Carlos Tavares, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da UNILAB, ressaltou o projeto de universidade vivido pela UNILAB como uma ferramenta de profunda transformação social. “Defender a UNILAB é defender um projeto de universidade pública que confronta as desigualdades históricas do Brasil e do Sul Global. Nestes 14 anos [de atividades acadêmicas], a UNILAB afirma que educação de qualidade, com perspectiva africana e intercultural, é um direito e uma ferramenta de transformação social profunda”, pontuou.

A existência da UNILAB foi lembrada também como uma grande conquista da luta do movimento negro brasileiro e também como um projeto de universidade com um grande potencial de transformação social. “A UNILAB é fruto da luta do Movimento Negro por uma universidade multicultural, diversa, inclusiva e libertadora das mentes. Seu projeto inicial tem sofrido modificações ao longo do tempo, mas a resistência em seu interior tem mantido seu poder transformador”, ressaltou a Prof.ª Luma Andrade, do Instituto de Humanidades da UNILAB.
Como todo ambiente democrático, a UNILAB agrega também diversidade de pensamentos e posicionamentos, além de enfrentar desafios relacionados ao orçamento reservado à educação pública no país. “Estamos passando por um período de “mar revolto” (…). Além disso, a ultradireita piora o cenário com sua estética-pós-verdade (sic). Vivemos o sucateamento do orçamento destinado às universidades públicas desde 2015, pelo menos. Porém, apesar de tudo, vale muito a pena lutar pelos melhores princípios da UNILAB, pois representam a afirmação do Brasil “amefricano”, afirmou o Prof. Lourenço Cardoso, do Instituto de Humanidades da UNILAB.
A cooperação entre países irmãos e o intercâmbio de saberes e experiências são marcas irrefutáveis da trajetória da UNILAB. Um projeto que representa um exemplo de universidade para toda a diáspora negra. “Todo dia é dia do continente Mãe! Resgatar os valores de África e a dignidade de seus povos e descendentes é trazê-la de volta a seu lugar! Ao se predispor à cooperação e ao intercâmbio de saberes e experiências com o Continente, a UNILAB representa um passo nessa direção. Uma universidade pública necessária, que exalta os valores coletivos, resiste aos tempos sombrios e cultiva a solidariedade entre os povos!”, pontuou a Prof.ª Eliane Barbosa da Conceição, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da UNILAB.
O Prof. Lourenço Ocuni Cá, do Instituto de Ciências Exatas e da Natureza da UNILAB, pontuou que a defesa do projeto de universidade vivido a partir da experiência da UNILAB, é também a defesa de uma vida digna para toda a humanidade. “Defender o projeto como o da UNILAB é defender a inclusão nas instituições de ensino superior das pessoas que carecem de meios econômicos. Ter um olhar sui generis para os apartados historicamente dos benefícios que a humanidade construiu ao longo dos tempos e que bom só era privilégio de poucos. O colonialismo aprofundou esse abismo entre a elite dirigente e os que o servem. Defender este projeto é defender a dignidade humana. O dia 25/05 e o projeto UNILAB são o resgate histórico da luta pela emancipação”, afirmou.
O compromisso com uma universidade pública, gratuita, diversa e de qualidade foi algo também ressaltado pelos docentes da instituição como fundamental para que seja possível a celebração, a defesa, bem como a continuidade da UNILAB. “Celebrar os 14 anos das atividades acadêmicas da UNILAB, neste 25 de maio, Dia da África, é afirmar o compromisso com um projeto de universidade pública que rompe fronteiras. Uma universidade que nasceu da luta, se constrói na diversidade e precisa ser defendida todos os dias com coragem e afeto”, afirmou a Prof.ª Rosalina Tavares, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da UNILAB.
O aniversário de 15 anos da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira também foi assunto do Carnaval de Fortaleza, em 2025. A Império Ideal, escola de samba mais antiga em atividade no Ceará, trouxe como tema deste ano o enredo “UNILAB: 15 Anos de Integração Cultural”.
“A ADUFC celebra e defende o projeto da UNILAB porque é uma iniciativa necessária. É fundamental para nós ressaltarmos as raízes africanas do nosso povo e da nossa cultura, como forma também de nos valorizarmos e respeitarmos. Do mesmo modo, é instigante nos relacionarmos com pessoas, povos da África contemporânea, mantendo acesa a chama das nossas relações. No entanto, todo encontro, por mais desejado que seja, traz sempre o desafio do acolhimento às diferenças e da disposição permanente ao diálogo. Essa é a base da experiência nova que a UNILAB representa”, afirmou a Prof.ª Irenísia Oliveira, presidenta da ADUFC.
A UNILAB tornou-se parte inseparável do projeto emancipador da educação pública brasileira, sendo também um farol e exemplo para a educação em todo o mundo. É um projeto que necessita da defesa de toda a comunidade universitária, para que se mantenha em seu propósito original, assim como do estreitamento de laços com a sociedade brasileira para que haja a compreensão do quão estratégico e justo socialmente é ter uma universidade no Brasil com o caráter da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Vida longa à UNILAB!